“É necessário ultrapassar os estereótipos para que as pessoas com deficiência tenham igualdade de oportunidades com o emprego”

“É necessário ultrapassar os estereótipos para que as pessoas com deficiência tenham igualdade de oportunidades com o emprego”

As taxas de atividade e desemprego para este grupo mostram valores claramente negativos em comparação com o conjunto da população

A falta de informação e a inadequação dos candidatos aos postos oferecidos, limitações que dificultam a contratação de pessoas com deficiência

O desconhecimento; a inadequação entre perfis e postos, assim como a perceção errada dos empresários, são as principais limitações das pessoas com deficiência para aceder ao mercado laboral em igualdade de oportunidades. Esta é uma das principais conclusões extraídas do V Fórum “Clece pela Integração” realizado na passada terça-feira sob o lema “Capazes de superar-se” no Teatro Echegaray de Málaga. O Fórum, organizado pela empresa Clece, reuniu diferentes atores envolvidos na integração laboral de pessoas com deficiência para falar das barreiras e oportunidades laborais deste grupo.

O evento foi inaugurado por Francisco Manuel de la Torre Prados, presidente da câmara de Málaga, que agradeceu à Clece a escolha desta cidade para a realização da quinta edição do Fórum. Como oradores teve a participação de Francisca Bazalo Gallego, vice-presidente da câmara, Delegada da Área de Acessibilidade do município de Málaga e desportista paraolímpica; Ana Maria Jiménez Bartolomé; Diretora Técnica dos Serviços Sociais e Centros de Assistência da Deputação de Málaga; Cristina San Millán Valls, Diretora do Centro de Valoração e Orientação em Málaga e vereadora delegada de Acessibilidade da Junta da Andaluzia; Miguel Ángel de Pedro, Coordenador Oriental da Fundação Adecco; Cristóbal Valderas Alvarado, Presidente da Clece; Purificación González Pérez, Diretora de Recursos Humanos da Clece e Lola Torre Montilla, Responsável de Coordenação do SAD do município de Málaga. E ainda, Laura Ramos Nuñez e Antonio Bueno Tejado, trabalhadores com deficiência.

O encontro evidenciou a desigualdade de condições laborais para o grupo de deficiência em comparação com o conjunto da população. Assim, enquanto os dados do desemprego da população espanhola, segundo os dados de 2014, eram de 20,3%, entre a população com deficiência o desemprego situava-se nos 32,2%. Além disso, entre os jovens com deficiência a taxa de desemprego era de 67,6%. Neste contexto mais de 81% das empresas incumpre o limite de integração estabelecido por lei de 2% de trabalhadores com deficiência.

Francisca Bazalo Gallego, vice-presidente, delegada da Área de Acessibilidade do município de Málaga e desportista paraolímpica, assinalou a inadequação de perfis como uma das causas. “Não é fácil favorecer a integração laboral porque historicamente as pessoas com deficiência não têm acesso a formação adequada. Isto fez com que não estivéssemos preparados para aceder a determinados postos. Mas os tempos mudaram e agora devemos pedir que nos deem a oportunidade de nos conhecer”.

Por outro lado, Ana Maria Jiménez Bartolomé, Diretora Técnica dos Serviços Sociais e Centros de Assistência da Deputação de Málaga, afirmou que no caso concreto da Deputação “ultrapassa-se a obrigatoriedade legal dos 2% de contratação de pessoas com deficiência até chegar aos 7%, fomentando-se medidas positivas como favorecer a contratação pública das empresas que, em igualdade de condições económicas, têm um maior número de empregados com deficiência”.

Cristina San Millán Valls, Diretora do Centro de Valoração e Orientação em Málaga e vereadora delegada de Acessibilidade da Junta da Andaluzia, destacou “a boa predisposição deste grupo” no momento de procurar emprego assim como a “prioridade que se deve dar à valoração de temas laborais já que o emprego é essencial para a integração”.

Para Miguel Ángel de Pedro, Coordenador Oriental da Fundação Adecco, o desconhecimento é uma das principais limitações. “O desconhecido provoca medo e o medo provoca rejeição. É muito importante conseguir sintonia entre a pessoa e o que a empresa pode oferecer”.

229 trabalhadores com deficiência na Clece Málaga

O fórum enquadra-se na Clece Social, o projeto social da empresa, que é dirigido a grupos socialmente desfavorecidos como pessoas com deficiência, pessoas em risco de exclusão social, mulheres que sofrem violência de género e jovens desempregados de longa duração; assim como grupos com necessidades especiais de atenção como crianças e idosos. Para eles, a empresa desenvolve quatro linhas de ação: Empregabilidade, Integração, Sensibilização e Cuidado de pessoas.

Neste contexto, o trabalho de integração laboral levado a cabo pela Clece possibilitou que, atualmente, mais de 9,8% do seu quadro de pessoal proceda destes grupos. Dos seus 73.852 empregados a nível nacional, 7300 trabalhadores são de integração e, em concreto, 5.194 possuem algum tipo de deficiência. No caso de Málaga, a Clece conta com 4.163 empregados, 327 procedentes de grupos desfavorecidos e 229 com alguma deficiência.

Antonio Bueno Tejado e Laura Ramos Nuñez são dois destes trabalhadores. Antonio, com deficiência sensorial por hipoacusia no ouvido esquerdo de 37% ocorrida num acidente, trabalha como técnico de manutenção do município de Fuengirola. Para ele “temos de ver na deficiência um trampolim para o emprego. Aos 45 anos, a deficiência abriu-me um campo para encontrar trabalho”. Por outro lado, Laura Ramos Nuñez, também com deficiência auditiva constatada de 65% contou ao auditório como muitas pessoas com deficiência têm de enfrentar ao que ela denominou “desproteção aprendida”, ou o negativo efeito de que “te repetem em numerosas ocasiões que não prestas, o que te pode levar a desistir”. Agora Laura é auxiliar do SAD do município de Málaga na Integra CEE.

“Para conseguir casos de sucesso como os do Antonio e Laura e chegar a mais de 9,8% de integração no quadro é necessário romper com os estereótipos, ver a capacidades dos trabalhadores e não as suas deficiências. Não é um processo fácil mas as empresas grandes têm a responsabilidade de abrir caminho e eliminar as barreiras que levam à normalização da contratação deste grupo” afirma Cristóbal Valderas Alvarado, presidente da Clece que também assinalou “a inclusão de cláusulas sociais na contratação pública como uma via positiva para favorecer a integração deste grupo”. Por outro lado, indicou que “a captação de pessoas com deficiência faz-se, fundamentalmente, através de Fundações e Associações, pelo que a colaboração com mais de 350 entidades é fundamental no projeto da Clece”.

Purificación González Pérez, Diretora de Recursos Humanos da Clece, insistiu na necessidade de “romper barreiras e estereótipos de todas as partes envolvidas. O candidato na entrevista tem de contar a sua deficiência e a empresa deve saber as vantagens que tem para a sua contratação. Na seleção deve-se ver se o perfil é o adequado”. Outros aspetos essenciais para fazer da integração um projeto duradouro e sólido são “o acompanhamento do trabalhador desde a sua incorporação e posterior seguimento assim como a sensibilização e envolvimento de todos os empregados no projeto.”

Lola Torre Montilla, Responsável de Coordenação do SAD do município de Málaga, ressaltou a importância do envolvimento dos colegas de trabalho porque “a experiência é muito positiva e no final não vês a diferença entre trabalhadores com e sem deficiência”.

Sensibilizar para mobilizar

Juntamente com o importante trabalho de integração, a Clece Social faz um notável esforço em sensibilização acerca da realidade social que estes grupos socialmente vulneráveis vivem. Para isso, apoia iniciativas sociais de terceiros, como jornadas, corridas populares ou campanhas; ao mesmo tempo que promove iniciativas próprias. Entre as mais destacadas, os Prémios Compromisso, os fóruns-colóquio pela integração ou o portal www.clecesocial.es. Málaga foi a sede da quinta edição do Fórum-colóquio pela integração cujas edições anteriores foram realizadas em Madrid, Valência, Las Palmas de Gran Canaria e Valladolid, dedicadas respetivamente à deficiência, violência de género, exclusão e grupos socialmente vulneráveis.

Galería V Foro por la Integración